Love me no times

Olhou-a como há muito não fazia. Não apenas a viu. Reparou a face rubra de Ana, seus contornos dos ombros e as curvas da cintura e do quadril. Desejou-a mais uma vez. Aquela boca, preenchida com batom vermelho, tornou-se o único centro de sua atenção.

Ela, por outro lado, fingia não se importar com aquilo. Estava desconfortável, é verdade, mas andava incrédula acerca da capacidade daquele homem em amá-la verdadeiramente. Achava que só o seu corpo já o satisfaria.

Mas ele insistia em levar a alma de Ana para a cama. Ela lutava com todas as suas forças para resistir, mas acabava se entregando. E aquela fogueira, que estava quase apagada, repentinamente, se transformava em um vulcão.

E ele a abandonaria mais uma vez.

(...)

Hoje, Ana desejou que aquele homem a amasse outra vez. Usou o vestido que o seu amante mais gostava, penteou os cabelos, passou seu melhor perfume.

Mas não se encontraram.

(...)

Quem é esse homem?

(...)

Teve medo que Ana o conhecesse profundamente. Ébrio, revelou-a seus desejos mais íntimos. E se arrependeu. Se arrependeu, pois não desejava que ninguém o conhecesse. Preferia viver à sua própria sombra - e não revelar que um dia já teve sonhos.

Ana reavivara nele aquela capacidade de sonhar. Era jovem e bonita. A risada alta de Ana, que sempre vinha acompanhada por uma mão espalmada tapando timidamente a sua boca rosada, o desconsertava.

(...)

E ele, inexplicavelmente, deixou Ana ir. Preferia o silêncio da falta que ela fazia à perturbação que a simples presença dela lhe causava. Olhou-se no espelho e viu apenas rugas. Constatou que não queria mais sonhar. E despediu-se da vida.

(DH)