//Blogs


Bafoa
Rariú
Terra de (quase) ninguém
Paranóia ululante
Paranóia ululante 2
Mandrey
Vacacaga
Polis et circensis
Nomad
Rodrigo
Balão
Natha
Mari Maga
Ruy
Diego Glam
Zé Pirauá
Fredynho
Almanaque do Brega
TV Sofia
Richard

//Links


Link
Link

//...


eXTReMe Tracker




//Créditos

  Powered by Blogger
 
 

Friday, May 19, 2006

Jogada na notícia

Ontem pela manhã, eu tive uma pauta no Ibura, um subúrbio super longe aqui do jornal e uma terra completamente estranha pra mim. Os moradores do lugar estavam pedindo socorro porque a avenida principal do bairro estava com muitas bocas-de-lobo abertas e com as galerias entupidas, o que tornava, para eles, sair de casa uma missão quase impossível.

Beleza, 8h30 no Ibura. Lá fui eu.

Encontrei a líder comunitária, muito simpática, por sinal. Meire, o nome dela. Uma figura muito engraçada:

"Aqui no IMbura, minha filhammm, temos muintchos problemammm. A senhorammm tá vendommm. As ruasmmm estão cheia de buracosmmm."

Bichinha da dona, Meire. Como eu sou malvada, meu Deus.

A rua estava o caos mesmo. Além disso, as seis praças do bairro estavam completamente depredadas e algumas nem poderiam ser chamadas de praça; eram só um quadrado cheio de mato.

Na volta para o jornal, quando estou passando pela avenida Mascarenhas de Moraes, dou de cara com uma passeata do MLST. Procuro se tem alguém do jornal; o campo mais limpo. Tom, o fotógrafo que estava comigo, desceu do carro loucamente extasiado e começou a fotografar tudo. Eu, como futura jornalista, também não podia deixar a notícia passar, né? Ligamos pro editor de Cidades, ele disse que mandaria um repórter, mas eu e Tom ficamos dando conta do recado naquele momento.

Havia muitas crianças na passeata, muitas mesmo. Me perguntei por um instante qual seria o futuro daqueles pequenos seres. Enquanto eu, aos 8 anos de idade tinha uma casa confortável e estudava em uma boa escola, aqueles meninos precisam lutar para conseguirem uma terra onde possam cair mortos. É triste.

Tantas cores na passeata. Mas o vermelho gritava. O vermelho da luta, do sangue, do comunismo. As bandeiras era agitadas incessantemente, ao som de "Hoje é dia de luta!"

Entrevistei o coordenador do MLST em Pernambuco. Ele foi bem simpático; me falou tudo sobre a passeata e o que o mês de maio representava para o movimento. O mês de luta.

Acompanhei o protesto até a Assembléia Legislativa, na Rua da Aurora. Os manifestantes foram recebidos por policiais militares armados com cacetetes e impedidos de hastearem as bandeiras do MLST nas grades do edifício. Mas lá permaneceram, sentados na calçada e no asfalto quente, fechando o trânsito e implorando aos homens para olharem por eles.

De lá segui para a redação. Já eram quase 14h, eu ainda não havia almoçado e precisava escrever minha matéria sobre o Ibura e terminar uma reportagem que já estava fazendo.

Tom estava mais maravilhado que eu, infinitamente mais. Ele conseguia externar a emoção de estar ali, fotografando aquele povo, gente de verdade, sabe? Eu me contive um tanto.

Voltei pra redação. A contragosto não externado, é verdade, mas voltei. Falei para o editor de Cidades o que estava acontecendo à vera ele enviou um repórter.

Escrevi a matéria do Ibura, terminei minha reportagem e fiz algumas linhas para a matéria de Cidades do MLST. E fiquei feliz em, hoje, ao abrir o caderno de Cidades, ver que as minhas poucas e espaçadas linhas fizeram parte da matéria sobre os vários protestos que aconteceram ontem na cidade.

Eu achava que o factual não me fascinava tanto, mas estava enganada. É bom você ver a realidade e dar a ela o recorte que você acha certo.

Espero, mesmo, que coincidências como essas aconteçam outras vezes na minha vida. No jornalismo, a gente não usa o verbo acontecer, porque ele designa um fenômeno da natureza ou alguma tragédia. Mas, nesse caso, o protesto do MLST aconteceu na minha vida mesmo. Não como uma tragédia, mas como um fenômeno da natureza, que me fez cair coincidentemente de cara com esse dia tão bonito.


1 Comments:

Blogger milena said...

Deve ser realmente foda essa coisa de jornalista... Principalmente do fotográfo. Não sei porque não faço Jornal... medo, talvez.

;*

3:36 PM  

Post a Comment

<< Home