Jogada na notícia
Ontem pela manhã, eu tive uma pauta no Ibura, um subúrbio super longe aqui do jornal e uma terra completamente estranha pra mim. Os moradores do lugar estavam pedindo socorro porque a avenida principal do bairro estava com muitas bocas-de-lobo abertas e com as galerias entupidas, o que tornava, para eles, sair de casa uma missão quase impossível.
Beleza, 8h30 no Ibura. Lá fui eu.
Encontrei a líder comunitária, muito simpática, por sinal. Meire, o nome dela. Uma figura muito engraçada:
"Aqui no IMbura, minha filhammm, temos muintchos problemammm. A senhorammm tá vendommm. As ruasmmm estão cheia de buracosmmm."
Bichinha da dona, Meire. Como eu sou malvada, meu Deus.
A rua estava o caos mesmo. Além disso, as seis praças do bairro estavam completamente depredadas e algumas nem poderiam ser chamadas de praça; eram só um quadrado cheio de mato.
Na volta para o jornal, quando estou passando pela avenida Mascarenhas de Moraes, dou de cara com uma passeata do MLST. Procuro se tem alguém do jornal; o campo mais limpo. Tom, o fotógrafo que estava comigo, desceu do carro loucamente extasiado e começou a fotografar tudo. Eu, como futura jornalista, também não podia deixar a notícia passar, né? Ligamos pro editor de Cidades, ele disse que mandaria um repórter, mas eu e Tom ficamos dando conta do recado naquele momento.
Havia muitas crianças na passeata, muitas mesmo. Me perguntei por um instante qual seria o futuro daqueles pequenos seres. Enquanto eu, aos 8 anos de idade tinha uma casa confortável e estudava em uma boa escola, aqueles meninos precisam lutar para conseguirem uma terra onde possam cair mortos. É triste.
Tantas cores na passeata. Mas o vermelho gritava. O vermelho da luta, do sangue, do comunismo. As bandeiras era agitadas incessantemente, ao som de "Hoje é dia de luta!"
Entrevistei o coordenador do MLST em Pernambuco. Ele foi bem simpático; me falou tudo sobre a passeata e o que o mês de maio representava para o movimento. O mês de luta.
Acompanhei o protesto até a Assembléia Legislativa, na Rua da Aurora. Os manifestantes foram recebidos por policiais militares armados com cacetetes e impedidos de hastearem as bandeiras do MLST nas grades do edifício. Mas lá permaneceram, sentados na calçada e no asfalto quente, fechando o trânsito e implorando aos homens para olharem por eles.
De lá segui para a redação. Já eram quase 14h, eu ainda não havia almoçado e precisava escrever minha matéria sobre o Ibura e terminar uma reportagem que já estava fazendo.
Tom estava mais maravilhado que eu, infinitamente mais. Ele conseguia externar a emoção de estar ali, fotografando aquele povo, gente de verdade, sabe? Eu me contive um tanto.
Voltei pra redação. A contragosto não externado, é verdade, mas voltei. Falei para o editor de Cidades o que estava acontecendo à vera ele enviou um repórter.
Escrevi a matéria do Ibura, terminei minha reportagem e fiz algumas linhas para a matéria de Cidades do MLST. E fiquei feliz em, hoje, ao abrir o caderno de Cidades, ver que as minhas poucas e espaçadas linhas fizeram parte da matéria sobre os vários protestos que aconteceram ontem na cidade.
Eu achava que o factual não me fascinava tanto, mas estava enganada. É bom você ver a realidade e dar a ela o recorte que você acha certo.
Espero, mesmo, que coincidências como essas aconteçam outras vezes na minha vida. No jornalismo, a gente não usa o verbo acontecer, porque ele designa um fenômeno da natureza ou alguma tragédia. Mas, nesse caso, o protesto do MLST aconteceu na minha vida mesmo. Não como uma tragédia, mas como um fenômeno da natureza, que me fez cair coincidentemente de cara com esse dia tão bonito.
Beleza, 8h30 no Ibura. Lá fui eu.
Encontrei a líder comunitária, muito simpática, por sinal. Meire, o nome dela. Uma figura muito engraçada:
"Aqui no IMbura, minha filhammm, temos muintchos problemammm. A senhorammm tá vendommm. As ruasmmm estão cheia de buracosmmm."
Bichinha da dona, Meire. Como eu sou malvada, meu Deus.
A rua estava o caos mesmo. Além disso, as seis praças do bairro estavam completamente depredadas e algumas nem poderiam ser chamadas de praça; eram só um quadrado cheio de mato.
Na volta para o jornal, quando estou passando pela avenida Mascarenhas de Moraes, dou de cara com uma passeata do MLST. Procuro se tem alguém do jornal; o campo mais limpo. Tom, o fotógrafo que estava comigo, desceu do carro loucamente extasiado e começou a fotografar tudo. Eu, como futura jornalista, também não podia deixar a notícia passar, né? Ligamos pro editor de Cidades, ele disse que mandaria um repórter, mas eu e Tom ficamos dando conta do recado naquele momento.
Havia muitas crianças na passeata, muitas mesmo. Me perguntei por um instante qual seria o futuro daqueles pequenos seres. Enquanto eu, aos 8 anos de idade tinha uma casa confortável e estudava em uma boa escola, aqueles meninos precisam lutar para conseguirem uma terra onde possam cair mortos. É triste.
Tantas cores na passeata. Mas o vermelho gritava. O vermelho da luta, do sangue, do comunismo. As bandeiras era agitadas incessantemente, ao som de "Hoje é dia de luta!"
Entrevistei o coordenador do MLST em Pernambuco. Ele foi bem simpático; me falou tudo sobre a passeata e o que o mês de maio representava para o movimento. O mês de luta.
Acompanhei o protesto até a Assembléia Legislativa, na Rua da Aurora. Os manifestantes foram recebidos por policiais militares armados com cacetetes e impedidos de hastearem as bandeiras do MLST nas grades do edifício. Mas lá permaneceram, sentados na calçada e no asfalto quente, fechando o trânsito e implorando aos homens para olharem por eles.
De lá segui para a redação. Já eram quase 14h, eu ainda não havia almoçado e precisava escrever minha matéria sobre o Ibura e terminar uma reportagem que já estava fazendo.
Tom estava mais maravilhado que eu, infinitamente mais. Ele conseguia externar a emoção de estar ali, fotografando aquele povo, gente de verdade, sabe? Eu me contive um tanto.
Voltei pra redação. A contragosto não externado, é verdade, mas voltei. Falei para o editor de Cidades o que estava acontecendo à vera ele enviou um repórter.
Escrevi a matéria do Ibura, terminei minha reportagem e fiz algumas linhas para a matéria de Cidades do MLST. E fiquei feliz em, hoje, ao abrir o caderno de Cidades, ver que as minhas poucas e espaçadas linhas fizeram parte da matéria sobre os vários protestos que aconteceram ontem na cidade.
Eu achava que o factual não me fascinava tanto, mas estava enganada. É bom você ver a realidade e dar a ela o recorte que você acha certo.
Espero, mesmo, que coincidências como essas aconteçam outras vezes na minha vida. No jornalismo, a gente não usa o verbo acontecer, porque ele designa um fenômeno da natureza ou alguma tragédia. Mas, nesse caso, o protesto do MLST aconteceu na minha vida mesmo. Não como uma tragédia, mas como um fenômeno da natureza, que me fez cair coincidentemente de cara com esse dia tão bonito.
1 Comments:
Deve ser realmente foda essa coisa de jornalista... Principalmente do fotográfo. Não sei porque não faço Jornal... medo, talvez.
;*
Post a Comment
<< Home